Obra inédita de João Prado (que a assina como Prado Netto), nunca foi
publicada pelo fato de o autor a achar muito amarga, o que se revela em
poemas depressivos em que o sarcasmo está a serviço de um visão
pessimista do mundo. Embora tal visão de mundo não combine com a
posterior produção de Prado, já é possível vislumbrar o poeta de verso
livres, com vistas à oralização.
Recentemente este livro foi totalmente digitalizado e recebeu
bela capa feita por Luise Cardoso. Estamos viabilizando sua publicação.
Leia a seguir o poema de abertura de Castelo de Ilusões:
Cordiais Saudações
Quando acabares de ler todo este livro,
Vou rasgá-lo,
Vou destruí-lo,
Vou picá-lo em pedacinhos,
Vou pôr fogo no último pedaço,
Atirar as cinzas pelo espaço
Destes versos paupérrimos, mesquinhos;
Desfarei-me inclusive dos rascunhos,
Destruirei-os feliz com os próprios punhos
Que outrora riscavam-nos displicentes.
Quando acabares de ler esta loucura,
Tanta asneira em conjunto terás lido
Que por certo tacharas-me de demente
Sim, talvez eu seja um louco, um desvairado,
Por vulgares pensamentos ter rimado,
Por pensamentos tão loucos quanto eu.
Mas é filha da loucura esta loucura,
É o lamento de minh’alma, eterna agrura,
Balbuciado sob a dor que me venceu.
Mas se o primeiro poema é tão maluco,
Das duas uma: ou eu fiquei caduco
Ou sirvo de palhaço até morrer.
Mas isto é mal de todo ser que é patriota,
E ainda trago no meu nome a letra J,
Desta JOÇA que escrevi pra você ler.
Se por um mero descuido ao fim chegares,
Rasgue-o, atire-o pelos ares,
Pois se não o fizeres eu o faço.
Mas se gostares de algo, te agradeço,
Pois no fim de tudo reconheço
Que ao menos servi-te de palhaço.
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